
Vivemos em um mundo cruel onde cada um dá um
palpite, aponta o dedo na cara do outro e salve-se
quem puder. Na era dos cancelamentos, se você
não anda na linha, pode ter certeza que terá seu
nome amarrado na boca do sapo. Se um
casamento se desfaz alguém já arruma mil amantes
para um integrante do casal desfeito. Se uma
mulher aparece curtindo a vida alguém já acha que
tem um cara por trás bancando tudo. Se uma artista
assume que gosta de beijar na boca já é taxada por
vários adjetivos baixos. Tudo isso por quê? Porque
alguém acha que tem direito de meter o bedelho na
vida do outro. Porque um grupo de pessoas resolve
dizer o que acha certo ou errado na vida do outro.
Juízes da internet, fiscais da vida alheia.
Recentemente, o assunto mais falado foi a cena da
festinha de aniversário: a menininha estava
cantando parabéns no dia do seu aniversário, feliz
da vida na frente da velinha de 3 anos e outra
menina, um pouco mais velha, apagou a vela e fez
um olhar de deboche do tipo “apaguei mesmo”. A
pequena puxou os cabelos da outra como foram de
protesto. A partir daí, mil e um comentários
surgiram, dentre eles que a outra mereceu o puxão
de cabelo porque tinha um olhar demoníaco. Vocês
têm a dimensão do que é isso? Olhar
demoníaco?!? Xingaram a menina de todos os
nomes possíveis. Falaram horrores de coisas de
uma criança. Uma criança. Uma simples criança.
Repito: uma criança, que por sinal é irmã da
aniversariante. Por que falamos do que não
sabemos? Por que não utilizamos esse tempo para
fazer algo de útil e produtivo na nossa vida? Por
que não guardamos dentro da boca as palavras
amargas? Por que temos essa necessidade de
impor nosso ponto de vista? Por que temos a
coragem de escrever coisas ruins a respeito de
outra pessoa? É preciso pensar nisso. A sociedade
está adoecendo. E não é por esse vírus que nos
aterroriza desde março. É pela crueldade que mora
lá no fundo de cada um de nós.
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