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SAÚDE EM FOCO

Quais os danos causados nos rins pelo novo coronavírus

Assim como acontece com o coração, quando os rins são afetados pela Covid-19, o nível de
alerta é aumentado.
A lesão renal é incremental, compõe o quadro de um doente mais complexo. São doentes
muito graves. Quando a doença é avassaladora, ela é avassaladora, resume o nefrologista
José Suassuna, chefe do Setor de Nefrologia do Hospital Pedro Ernesto, da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Hupe/Uerj).
Os rins são vitais por regularem a concentração de água no sangue e por eliminarem detritos
tóxicos do corpo.
No artigo publicado no periódico Lancet envolvendo 257 pacientes em Nova York, 31%
desenvolveram lesões agudas neste órgão e precisaram das chamadas terapias de substituição
renal, que incluem intervenções como a hemodiálise — este procedimento, em linhas gerais,
substitui o órgão no trabalho de filtrar o sangue.
Neste grupo nos Estados Unidos, 14% já tinham alguma doença crônica afetando os rins antes
da Covid-19.
Grupos de risco como obesos, diabéticos, pessoas com doenças cardiovasculares e idosos
muitas vezes já têm algum grau de comprometimento renal — então, quando infectados pelo
coronavírus, não partem do zero. Eles já estão na metade do caminho e caminham mais
rapidamente para a insuficiência renal aguda e para a necessidade de suporte", explica
Suassuna, destacando porém que há casos em que o paciente não tem fatores de risco mas
tem os rins comprometidos.
De acordo com o nefrologista, os rins também têm receptores ECA-2, mas as evidências até
agora indicam que possivelmente não é este ataque direto do vírus ao órgão o principal
motivo de acometimento dos rins.
Mais uma vez, a inflamação exacerbada do corpo ao coronavírus parece ter um papel
importante.
Uma evidência disso é a conexão entre os pulmões e o rins, a chamada cross talk entre os
órgãos.
É uma ligação cruzada, a situação em que o acometimento de um órgão determina o de
outro. Na covid-19, isso tem se mostrando entre rins e pulmões, assim como pulmões e
coração. O envolvimento pulmonar mais grave se associa a um risco muito maior para os rins.
Há uma associação grande entre entubar e a insuficiência renal, aponta Suassuna, explicando
que quando há esta insuficiência nos rins, o paciente deixa de urinar, precisando de suporte.
Além disso, outra explicação para o acometimento simultâneo de vários órgãos na fase mais
avançada da infecção é a baixa oxigenação.
A Covid-19 nos deixa com uma oxigenação como se estivéssemos subindo o Himalaia, mesmo
estando a nível do mar. Uma parte funcional do rim, que ajuda a produzir a urina, já vive como se estivesse no Everest — no que a gente chama de hipoxia, uma oxigenação muito baixa, diz
o médico, também professor da UERJ.
;O rim é um órgão muito sensível às quedas de oxigenação prolongadas porque já vive na
beira do precipício. E à piora da oxigenação se soma a tempestade de citocinas, um
mecanismo importante da disseminação do dano da covid do pulmão para o resto do corpo.
Apesar de seu adoecimento ser um indicador de gravidade, os rins também podem ser
afetados em casos mais leves, explica Suassuna. Entretanto, talvez isso nunca se manifeste em
sintomas, mas apenas exames específicos de urina e de alteração da função renal.
Os rins, em qualquer doença, sofrem em silêncio — e Covid-19 não é uma exceção, explica
Suassuna, acrescentando que esse órgão é afetado bilateralmente, ou seja, adoece tanto do
lado esquerdo quando direito.
Não tem grande manifestação de sintomas, a maior parte dos sinais só aparece no
laboratório. Temos pacientes iniciando diálise que não sentem nada, apenas quando já têm
menos 10% da função renal. De repente, param de urinar.

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