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SAÚDE EM FOCO

Como acontece as agressões do coronavírus no cérebro

Se tem um órgão que os entrevistados dizem estar rodeado de incógnitas sobre seu
acometimento pela Covid-19, é o cérebro.
Fato é que diversos estudos e relatos de casos já mostraram que ele pode ser afetado, dos
quadros leves aos graves.
A pesquisadora Clarissa Yasuda, médica e professora do departamento de neurologia da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que o diga: ela mesma teve Covid-19 em
agosto e conta ainda sentir consequências relacionadas ao cérebro, como sono, fadiga e
alterações na memória.
Ela e colegas publicaram em outubro um estudo em estágio pré-print (sem a chamada revisão
dos pares, etapa padrão em que outros especialistas analisam um estudo e decidem se ele
será publicado ou não em uma revista científica) com dados sobre 81 pessoas que tiveram
Covid-19 leve e se recuperaram.
Esses voluntários foram submetidos a exames de ressonância magnética, que detectaram
alterações no córtex, a parte mais externa do cérebro e fundamental para processos
envolvendo a memória, linguagem, entre outros.
Questionários e testes cognitivos também mostraram que, em média 60 dias após o
diagnóstico da covid-19, os pacientes ainda apresentavam dor de cabeça (40%), fadiga (40%),
alteração de memória (30%), ansiedade (28%), depressão (20%), perda de olfato (28%) e
paladar (16%), entre outros.
Aliás, Yasuda lembra que a perda destes sentidos é considerada pelos especialistas um sintoma
neurológico — precisamos do cérebro para sentir gostos e cheiros.
;Acho que não estava na conta de ninguém imaginar que pessoas que não foram internadas,
que seriam quadros , pudessem ficar com uma gama de alterações neurológicas
incapacitantes, como observamos não só aqui mas no mundo inteiro, diz a neurologista,
fazendo a ressalva de que o grupo de voluntários estudados foi formado por pessoas que já
estavam relatando sintomas neurológicos, então há uma inclinação de que estes sejam mais
frequentemente registrados do que se o estudo envolvesse uma população mais ampla.
;Além desses casos leves (que estão mostrando consequências prolongadas), há o grupo de
alterações neurológicas por Covid-19 que surgem na fase aguda e que podem ser bem graves
— como derrame, encefalite, convulsão e redução do nível de consciência. Em alguns casos, os
derrames aumentam a chance de AVC (acidente vascular cerebral). Não sabemos se estes
efeitos serão transitórios ou se deixarão sequelas.

São lesões cerebrais decorrentes da hipóxia (oxigenação diminuída) pelo acometimento
pulmonar grave na covid-19, não atribuídas diretamente ao vírus, explicou por e-mail o
pesquisador.
Isto porque, como em outros órgãos, os efeitos da Covid-19 não necessariamente ocorrem
devido ao ataque direto do coronavírus, mas sim pelas consequências da resposta inflamatória
do corpo e de alterações na circulação do sangue, entre outros.
Por exemplo, Duarte Neto relata também a observação, nas autópsias, de microsangramentos
nos vasos que irrigam o órgão, além da hipertrofia dos astrócitos — células em torno dos vasos
cerebrais e que dão suporte fundamental para os neurônios.
Na publicação em pré-print da qual Yasuda foi uma das autoras, a equipe demonstrou que os
astrócitos foram o principal alvo do coronavírus no cérebro. Isto também a partir de 26
autópsias minimamente invasivas, realizadas por pesquisadores da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da USP.
Mesmo que nem todo efeito neurológico do coronavírus seja atribuído ao seu ataque direto,
os pesquisadores entrevistados dizem que há sinais de que o patógeno chega até o cérebro
através do nariz, pelo mesmo caminho que um aroma ;faz; para chegar até lá.
Ainda assim, o conhecimento sobre o mecanismo de lesão do vírus Sars-CoV-2 no sistema
nervoso central ainda é pouco esclarecido, diz o pesquisador da USP.
Parte da equipe que está trabalhando com autópsias no Hospital das Clínicas da FMUSP, o
médico Amaro Nunes Duarte Neto relata que uma alteração muito comum observada nos
cérebros de pessoas que morreram após a infecção pelo coronavírus é a lesão dos neurônios.

(Fonte: G1)

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