
Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura para acatar
regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar
imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar. Amar, só, é pouco. Tem
que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões, rejeições, contas para
pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar. Não adianta, apenas,
amar. Entre casais que se unem na esperança do pra sempre, tem que haver um pouco de
silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo para cada um. Tem que haver confiança,
uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso
entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, simplesmente, não
basta. Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver
discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode
durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado. O amor é grande, mas não é
dois. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o
ônus da onipotência. O amor até pode bastar, mas ele próprio não se basta.
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