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SAÚDE EM FOCO

Como o coronavírus acomete os órgãos vitais?

Pulmões
Apesar de afetar outras partes do corpo, ainda são "as vias respiratórias e os pulmões" os
principais alvos da Covid-19, lembra a pesquisadora Marisa Dolhnikoff, professora associada
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenadora dos Estudos
em Autópsia da Covid-19 no Hospital das Clínicas da faculdade.
Tudo começa quando uma pessoa sadia entra em contato com gotículas do vírus, como
através da tosse ou espirro de alguém infectado, ou ainda por meio do contato com uma
superfície contaminada com essas partículas. A partir daí, o vírus começa a "hackear" as
células das vias respiratórias (canais que conduzem o ar aos pulmões, como o nariz e a
traqueia) e dos pulmões, transformando-as em fábricas de coronavírus que se espalham por
mais células.
Tosse, coriza e espirros podem surgir por conta do ataque às vias respiratórias. Esses sintomas
também podem ser reflexo do acometimento dos pulmões — mas, segundo Dolhnikoff, o sinal
mais claro de que este órgão vital foi afetado é a falta de ar.
Um estudo publicado em junho na revista científica Lancet, com dados de 257 pacientes em
Nova York (EUA), mostrou que a falta de ar foi o sintoma mais frequente na entrada no
hospital, registrado em 74% dos infectados, seguido por febre (71%) e tosse (66%).
Ainda segundo a pesquisadora da USP, um outro sinal importante vem das tomografias —
quando elas mostram mais de 50% da área dos pulmões acometida pelo coronavírus, este é
um indicador de gravidade e de insuficiência respiratória, que demanda suporte como a
ventilação mecânica. Ambos pulmões costumam ser afetados juntos.
Tanto nas vias respiratórias quanto nos pulmões, o coronavírus encontra um facilitador —
células contendo receptores da proteína ECA-2, uma espécie de chave que permite o início da
infecção.
É por isso que os pulmões são vitais — eles nos dão, literalmente, o ar que respiramos. O
órgão absorve o oxigênio externo e o distribui para todo o corpo através do sangue e, na via
contrária, recolhe o gás carbônico dispensado após vários processos dentro do corpo.
"Quando infectadas, as células dos alvéolos sofrem alterações importantes que levam à sua
morte, desencadeando um processo de inflamação e edema pulmonar (excesso de líquido)
que impedem as trocas gasosas, culminando com a insuficiência respiratória", completa
Dolhnikoff, cuja equipe no Hospital das Clínicas está realizando desde o início da pandemia um
método inovador de autópsias minimamente invasivas, de forma a evitar o contágio no
contato com corpos, para fins de pesquisa.
Além da infecção das células das vias respiratórias e dos alvéolos, em uma segunda frente, os
vasos sanguíneos também são atacados. Isso leva ao aumento da coagulação e à formação de

trombos (conjunto de sangue coagulado), que dificultam a passagem de sangue nos alvéolos.
Com isso, as trocas gasosas são mais uma vez comprometidas.
Quando o quadro pulmonar é muito grave, incluindo um conjunto de indicadores como a
insuficiência respiratória e a inflamação sistêmica, ele pode configurar a síndrome do
desconforto respiratório aguda (ARDS, na sigla em inglês).

(Fonte: G1)

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